Terremoto


Na minha última noite no Chile algo interrompeu meus pensamentos, meio sonhos, sobre voltar para casa: um terremoto. Tudo bem, não foi bem um terremoto como vimos em filmes, mas tudo começou a tremer. Primeiro duvidei se realmente aquilo existia pois só tinha visto na tv, "papo da mídia, não é isso", pensei. Até que depois, quando o chão começou a tremer mais forte concluí: é terremoto mesmo. Existe.


O meu - se estou fazendo um texto em homenagem acho que posso ter essa intimidade e chamar de meu - durou cerca de três segundos e esses três segundos passaram por mim da seguinte forma:  primeiro "ué", segundo "menina, não é que é terremoto mesmo?", E terceiro, pânico. Mas o pânico chegou inversamente proporcional ao tremor. Ainda bem.

Quando ele se foi eu continuei tremendo. Talvez de medo. Talvez de frio. As chances do tremor ser um resquício do terremoto eram ínfimas. E depois não consegui mais dormir. Mas não houve mais nenhum terremoto. Ou seja, ele só veio para causar. Achou que o Chile todo estava muito quieto e resolveu balançar as coisas um pouco. Acho que tem coisas-terremoto na vida.

Às vezes a gente tá bem, fazendo as mesmas coisas todos os dias e acostumado com a nossa vida estática e aí chega uma coisa-terremoto e você treme todo e pensa "ué", e depois "menina, não é que é essa coisa-terremoto mesmo" e depois você entra em pânico e a coisa-terremoto vai embora e te deixa ainda chacoalhando. Como um eco do que ela te trouxe.

Essas coisas-terremoto podem ser notícias que chegam sem avisar, podem ser oportunidades de trabalho, podem ser boas, podem ser ruins, podem ser pessoas que chegam, que vão, que regressam. Podem ser sorrisos, podem ser olhares, podem ser músicas ou poesias. As coisas- terremoto vem quando acham que a gente tá muito parado e esquecendo de outras coisas importantes. Elas, assim como os terremotos de verdade, também vem para causar.

As coisas-terremoto não fazem nosso chão tremer, somente, elas podem deixar a gente sem chão, podem nos fazer cair de tanto balançar ou nos fazer dançar. Depende muito do que são e principalmente de como as encaramos. Acho que as coisas-terremoto são o grande barato da vida. Não gosto de terremotos, mas não posso negar que as coisas-terremoto tem o seu valor.

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