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Mostrando postagens de setembro, 2016

Frases de efeito

“No meu lugar mais singular há silêncio”. Não sei se foi Lacan quem disse essa frase ou meu professor que dá aulas sobre Lacan, só sei que abri meu caderno e lá estava ela. Que frase linda. No meio do estudo parei algum tempo para ficar apenas contemplando essa frase. Quanto significado em tão poucas palavras. Lacan, ou meu professor, juntou simples palavras e as transformou numa frase incrível e profunda. Antigamente, a meta de vidas das pessoas era escrever um livro. Hoje em dia, com toda essa modernização e rapidez, acho que meu sonho é apenas escrever uma frase de efeito bonita, dessas que as pessoas param tudo que estão fazendo para refletir. Que leem e releem, não chegam a nenhuma conclusão fechada e pensam “Uau. Baita frase”. Eu queria mesmo era roubar algumas frases, dizer que fui eu quem escreveu, mas isso, infelizmente, não é ético. Imagina a felicidade de ter escrito alguma frase como “O problema não é crescer, é esquecer”, “Nós aceitamos o amor que achamos que mere

Hoje sonhei com você

Querido amor platônico, Hoje sonhei com você. Ontem também sonhei com você. Antes de ontem eu também sonhei com você. É verdade que não é nenhuma novidade: desde que te conheci sonho com você todos os dias. A maioria dos sonhos são sobre como nosso casamento é lindo ou sobre como vamos nomear nossos filhos. Não é só dormindo que sonho com você. Sonho com você acordada também, e é isso que eu faço a maior parte do tempo. Mas essa noite sonhei que você beijava outra pessoa. Acordei muito assustada. Acordei muito assustada e muito triste. Quem você pensa que é para invadir o meu sonho e beijar outra pessoa dentro da minha própria cabeça? O problema é que nem no sonho eu podia brigar com você por estar com outra pessoa, porque mesmo não tão consciente eu tinha lucidez o suficiente para saber que nem em sonho você é meu. Não ser meu, porém, não te dá o direito de invadir a minha mente e beijar outra pessoa, assim na minha cara. A verdade é que não quero ver você beijando outras pes

20 centavos ou um real

Entrei no ônibus e fiz o que sempre faço: botei meus fones de ouvido e meu celular para tocar alguma música no Nando Reis, recostei a cabeça e fiquei esperando o sono chegar para que a quase viagem que faço da faculdade para a minha casa passasse mais rápido, quando de repente ouvi uma gritaria e tirei os fones de ouvido. A voz do Nando Reis foi substituída por um diálogo revoltado. “Eu já disse que só tenho que te dar 20 centavos!” - disse o motorista aos berros para um dos passageiros que cobravam, com calma e sutileza, um real. “Senhor, eu te dei R$ 4,80, tem que me dar um real!” - respondeu o passageiro ainda com calma. A multidão começou a se formar ao redor do pequeno espaço entre o motorista e a roleta e todos gritavam “calma, moço!” para o motorista, que conforme o diálogo ia se desenrolando ficava cada vez mais nervoso. Alguns mais medrosos saíam de perto. Eu, talvez a mais medrosa de todas, não mexi um centímetro de onde estava: tirar os fones de ouvido foi tudo o qu

“A senhora já tem o cartão da loja?”

“A senhora já tem o cartão da loja?” Fui até uma livraria se nenhuma intenção de comprar nada, porém, como uma pessoa compulsiva por livros que sou, me apaixonei pelo novo livro de crônicas do Antônio Prata e resolvi perguntar a quem eu estava enganando ao entrar numa livraria e achar que não compraria nenhum livro. Levei o meu mais novo xodó literário ao caixa e a mulher que estava no caixa perguntou “a senhora já tem o cartão da loja?”. SENHORA? Com certeza não é a primeira vez que acontece, ou a primeira vez que percebo esse vocativo. Mas quando isso começou a acontecer? Quando eu me tornei senhora? Talvez a culpa seja das pessoas que no auge dos meus dezenove anos me chamam de senhora. Nada tenho de senhora, nem ao menos quero ter. Será que eu pareço uma senhora? O que aconteceu com o delicado menina? Se bem que “a menina já tem o cartão da loja?” não seria bom. O que houve com o “moça”? Um simples “a moça já tem o cartão da loja?” seria certamente bem melhor, mas não dar