Meninas de respeito

Desde pequenas somos criadas assim. Somos criadas para não usar roupas muito curtas, para sermos delicadas e femininas e para sermos “meninas de respeito”. Os meninos escutam essa frase, repetem essa frase, os pais falam essa frase, os professores falam essa frase, os amigos falam essa frase, os familiares falam essa frase, todos continuam repetindo essa frase até que as meninas acreditem nela. Nos fazem acreditar que existem “meninas de respeito”, como se houvessem meninas que não devessem ser respeitadas.


Não deveria ser necessário que milhares de mulheres estejam escrevendo textos como esse. Também não deveria ser normal que milhares de mulheres passem pelo o que essa menina de dezesseis anos passou. Infelizmente, porém, enquanto houver a separação das “meninas de respeito” e as “meninas que não se dão o respeito” textos assim são necessários. Se todos pensassem que isso é um absurdo, a coisa estaria melhor, mas o que mais assunta é que nem todos pensamos assim. Ninguém merece ser estuprada. E as pessoas fingem que entendem isso, mas não entendem.


O caso dessa menina é só um exemplo de que quando a notícia vem a primeira coisa que as pessoas pensam é “Você viu a história toda?”, “Ela estava usando que tipo de roupa?”, “Por que ela estava em uma comunidade 1h da manhã?”, “Ela estava bêbada? Drogada?”, “Vazou um áudio dela dizendo que queria dar para 50!”, “Mas também, tem fotos dela segurando uma metralhadora…”. NÃO IMPORTA. Nada disso importa. Poderia ter sido qualquer uma de nós: com roupas curtas ou não, de madrugada ou não, bêbada ou não. Se ela tivesse consentido em fazer sexo com os 30, ótimo. Se ela tivesse consentindo em fazer sexo com 29 e com 1 não, ainda sim é estupro.


Infelizmente, somos criadas para fugir de lugares que não são seguros, para não usar roupas curtas, para não sair sozinha de madrugada, e o problema é que quando fazemos alguma coisa desse tipo a culpada somos nós: NÃO SOMOS. Eu não saio na rua de madrugada e não uso esse tipo de roupa porque eu tenho MEDO. É assim a sociedade em que vivemos, mas a culpa não é minha.


Nossas roupas são sempre curtas demais, provocativas demais, somos sempre putas demais, piranhas demais, vagabundas demais, fáceis demais, e respeitadas de menos. De muito menos.

#ACulpaNuncaÉdaVítima

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