Medo

Eu odeio sentir medo. Nunca entendi porque as pessoas adoram filmes de terror, ou buscam qualquer tipo de entretenimento para levar sustos. Mas aos poucos fui aprendendo a evitar o medo. “O medo é uma emoção básica, não evite o medo”, alguns amigos de psicologia vão dizer: eu evito sim, não gosto. Evito o medo desde pequena. Desde a madrasta da branca de neve, que se transformava numa senhora macabra. Eu não assistia essa parte do filme sozinha e, às vezes, passava a cena dela. Se bobear eu continuo fazendo o mesmo.

É relativamente fácil, eu evito filmes de terror e parques de diversão com brinquedos como “o trem fantasma”. Certa vez um amigo, em uma viagem, me obrigou a ir em um trem fantasma e até assim eu evitei o medo: transformei o medo em raiva e sentia que meu motivo de vida era matar meu amigo que me obrigou a ir nesse brinquedo estúpido. Saindo do brinquedo, dentro do qual eu fiquei de olhos fechados o tempo todo, a raiva foi passando aos poucos. O mesmo amigo, na mesma viagem, disse que seria divertido ir à um cemitério. Resisti, disse que seria desnecessário. Fui mesmo assim, com medo de ir e com medo de ficar sozinha na porta. Mas tirando os momentos que estou com esse amigo, eu evito fácil o medo. Ainda estou repensando essa amizade.

Esse ano, porém, eu não consegui escapar do medo. Não consegui porque ele não veio por onde normalmente ele vem: eu não assisti nenhum filme de terror eu praticamente vivi em um. Esse ano deu Crivella, e agora também deu Trump. TRUMP. Eu sinto meu coração acelerar, não em um bom sentido. Sinto que, aos poucos, vou ficando sem ar. Sinto que quero muito correr. Dessa vez, porém, não tem o fim do trem fantasma: não tem para onde correr. Eu sinto medo.

Parece que as pessoas não entenderam nada dos verdadeiros filmes de terror (que eu não assisto): não dá pra eleger esse tipo de pessoa. Eles não só representam tudo que não está de acordo com os meus valores como fazem questão de ir contra tudo que lutamos por muito tempo. Feminismo? Bléh, as mulheres são mesmo inferiores aos homens e só estão nesse planeta para serem lindas. Movimento LGBT? Bléh, eles são mesmo demoníacos. Luta contra a pobreza? Luta contra o racismo? Luta contra a xenofobia? Bléh. Bléh. Bléh.

Dá pra passar essas cenas igual eu fazia com a madrasta da branca de neve?

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