Janela

Não importa o quanto eu tente fazer você se abrir, você não quer abrir, continua preso por uma fechadura que insiste que eu não entenda qual é a mágica que o faça destravar.

E eu tento. Eu puxo, empurro, penso em usar uma saída de emergência, suo com o calor e o sufoco que fico comigo mesma por não conseguir abrir você. E você nada. Não deixa eu ver um milímetro do que tem do seu outro lado. De sentir uma mínima parte do que tem do seu outro lado.

Eu escuto as pessoas reclamarem "não quer se abrir", e também elas desistem de entender por que você quer ficar assim. Mas eu continuo tentando e me cansando e cada vez mais eu vejo que faço um trabalho sozinha enquanto você também deveria estar ajudando. E vou ficando cada vez mais sem propósito para continuar nessa tarefa árdua de tentar te abrir.

A verdade é que você só abre se eu fizer muita força, mas eu não quero fazer força, sabe? Talvez eu nem tenha essa força toda para fazer. Eu queria que fosse fácil te abrir. Queria que você quisesse ser aberto por mim, porque eu me abro pra você sem você fazer o mínimo esforço.

Com o tempo eu vou me tornando só uma das outras pessoas que já desistiram de você. Vou respirando, restaurando minha cor antiga, o suor vai secando, minhas mãos machucadas de tentar te abrir vão se recuperando, eu vou me sentando novamente e eu volto a viver minha vida e pensar só no que quer ser aberto por mim.

Afinal, é muito difícil abrir uma janela de um ônibus em que o ar condicionado está quebrado. Você é uma janela de um ônibus em que o ar condicionado está quebrado.

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